Neoplasias mieloproliferativas e a mutação V617F no Gene JAK2 em pacientes do Hospital do Câncer de Muriaé

Autores

  • Emanuel Braga Acadêmicos do Curso de Biomedicina da Faculdade de Minas (FAMINAS). Campus Muriaé. Muriaé – MG, Brasil.

Resumo

1 Introdução

As neoplasias mieloproliferativas (NMPs) são transtornos mieloides que abrangem doenças hematológicas com aspectos em comum relacionadas às características clínicas e a expansão clonal, como na Policitemia Vera (PV), Trombocitemia Essencial (TE) e Mielofibrose Primária (MNP), sendo a mutação JAK2 V617F encontrada na maioria dos casos [1]. Os sinais e sintomas mais notados nos pacientes são esplenomegalia, risco aumentado de hemorragia, trombose e produção hematopoiética extramedular [2]. O objetivo deste estudo foi analisar a frequência da mutação V617F em JAK2 em pacientes com PV, TE e MFP, bem como, outros achados clínicos.

 

2 Métodos

                  Trata-se de um estudo transversal retrospectivo sobre a frequência da mutação V617F do gene JAK2 em indivíduos com NMPs e seus achados clínicos mais comuns do Hospital do Câncer de Muriaé. Pacientes com mais de 18 anos e com diagnóstico clínico para NMPs foram incluídos. Este estudo foi aprovado no CEP sob o CAAE: 62262316.7.0000.5105

 

3 Desenvolvimento

Dezesseis pacientes foram inclusos com idade média de 69 anos (±15,9). Aproximadamente 62,5% dos indivíduos apresentavam clinicamente a TE, 25% a MFP e 12,5%, a PV. Todos com PV eram mulheres e tinham idade média de diagnóstico de 59 (±2,83) anos, e em 50% delas a hepatoesplenomegalia foi observada. Nos hemogramas obtidos das pacientes com PV foi observado que a eritropoiese é alteração mais encontrada (média de hemácias: 7,60/mm3, hemoglobina: 20,15g/dL e hematócrito: 62,35%). A trombose pode estar relacionada, além do alto valor de hematócrito e plaquetas (aumento da viscosidade), a outros eventos como a diminuição de anticoagulantes, interações celulares e a problemas com o mecanismo de Von Willebrand, causando alterações no processo de agregação plaquetária podendo levar a complicações hemorrágicas [3]. Além disso, em 50% dos pacientes havia mutação em JAK2. Já em literatura estima-se que 90% deles apresentam esse gene alterado [4]. Em indivíduos com TE, 72,7% eram do sexo masculino e 27,3% do sexo feminino, a idade média de diagnóstico foi de 62,73 anos (±18,64). Além disso, 45,5% tinham a mutação em JAK2, 27,3% não à apresentavam e outros 27,3% não realizaram o teste. Cerca de 18,2% desses indivíduos vieram a óbito entre 2 à 3 anos após receberem o diagnóstico. Destes pacientes, 18,2% tiveram esplenomegalia e hepatomegalia. No hemograma observou-se que a leucocitose (17.871/mm³) e a plaquetose (966.300/mm³) foram as principais alterações encontradas. Estes achados podem estar relacionados com episódios hemorrágicos devido, principalmente, a alterações na atividade plaquetária, eventos vasculares e também a trombose. Os fenômenos trombóticos são as principais causas de morte e também podem estar associados à história de trombose, riscos cardiovasculares, estado inflamatório, leucocitose, presença da mutação JAK2 V617F e comprometimento da funcionalidade das plaquetas [5]. Já os pacientes com MFP, 75% eram do sexo masculino e 25% do sexo feminino. A idade média de diagnóstico foi de 79 (±5,2) anos, e todos tinham a mutação em JAK2. A porcentagem de óbitos destes pacientes foi de 25% após 1 ano da confirmação do diagnóstico. A esplenomegalia estava presente em 50% dos casos e a hepatomegalia em 25%. E quanto aos achados laboratoriais a leucocitose (23.202,50/mm³) foi a alteração mais encontrada. A MFP pode ter como característica a transformação maligna das células hematopoiéticas pluripotentes, o que pode levar ao aumento de células responsáveis pela liberação de fator de crescimento fibrogênico. Em 50% dos casos com MFP em literatura são portadores da mutação e a taxa de sobrevida é de 3 a 10 anos [4]. As NMPs podem ter várias causas, porém, quando estas estão relacionada com a mutação de JAK2 há uma a predisposição de se autofosforilar independente da ação de citocinas, dessa forma ela perde o controle da produção dos precursores hematopoiéticos, alterando os valores dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas na corrente sanguínea, o que aumenta  o risco trombolítico [6].

 

4 Considerações finais

                  A mutação esteve presente na maioria dos casos de NMPs (62,5%). A maior parte dos pacientes apresentaram o diagnóstico de TE. Cada uma das doenças relatadas apresenta características clínicas clássicas, como, principalmente, aumento eritrocitário em PV, plaquetário em TE e leucocitário em MFP, sendo assim, o rastreamento desses parâmetros é de suma importância no prognóstico, tratamento e sobrevida dos pacientes.

Referências

CAMPOS, P. M. Investigação de vias de sinalização tirosinoquinase em neoplasias mieloproliferativas crônicas BCR-ABL1 negativas: interação JAK2/IRS2 e mutações em KIT. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2015.

SILVA, P. H. et al. Hematologia Laboratorial: teoria e procedimentos. Porto Alegre : Artmed, 2016.

MORETTI, M. P. et al. Policitemia vera: relato de caso. Arquivos Catarinenses de Medicina. v. 37. n. 3, 2008.

CHAUFFAILLE, M. L. L. F. Neoplasias mieloproliferativas: revisão dos critérios diagnósticos e dos aspectos clínicos. Rev. Bras de Hemat e Hemo, v. 32. n. 4. 2010.

ZAGO, M. A; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Tratado de Hematologia. São Paulo : Editora Atheneu, 2013.

JAMES C. et al. A unique clonal JAK2 mutation leading to constitutive signalling causes polycythaemia vera. Nature, v. 434, n. 28, p. 1144–1148, 2005.

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Publicado

20-12-2021

Como Citar

Braga, E. (2021). Neoplasias mieloproliferativas e a mutação V617F no Gene JAK2 em pacientes do Hospital do Câncer de Muriaé. REVISTA CIENTÍFICA DA FAMINAS, 16(2). Recuperado de https://periodicos.faminas.edu.br/index.php/RCFaminas/article/view/662