Prevalência de Enterobacterales resistentes aos carbapenêmicos isolados de amostras de urina de pacientes hospitalizados e ambulatoriais

Autores

  • Camila Medeiros Vicenti Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
  • Igor Rosa Meurer Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares https://orcid.org/0000-0002-8410-4741
  • Patricia Guedes Garcia Universidade Federal de Juiz de Fora https://orcid.org/0000-0002-0795-6422

Palavras-chave:

Enterobacterales resistentes aos carbapenêmicos, farmacorresistência bacteriana, infecções do trato urinário, infecção hospitalar

Resumo

As infecções do trato urinário afetam milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano. As Enterobacterales resistentes aos carbapenêmicos tem causado infecções nosocomiais em todo o mundo, se disseminando rapidamente. Como objetivo, buscou-se avaliar a prevalência de Enterobacterales isolados de amostras de urina de pacientes hospitalizados e ambulatoriais e sua resistência aos carbapenêmicos. Trata-se de um estudo retrospectivo realizado através da coleta de dados de uroculturas positivas de pacientes hospitalizados e ambulatoriais de um hospital universitário localizado no município de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2021. Entre as 877 uroculturas positivas para bactérias, 497 (56,67%) pertenciam a ordem Enterobacterales, sendo que as mais prevalentes foram Escherichia coli 229 (46,08%), seguida de Klebsiella pneumoniae 157 (31,59%) e Proteus sp. 34 (6,84%). Infecções do trato urinário acometeram mais pacientes do gênero feminino (56,21%). Entre o total de Enterobacterales isoladas, 75 (15,09%) apresentaram resistência aos carbapenêmicos (Ertapenem e Imipenem), com destaque para Klebsiella pneumoniae 57 (76%), Enterobacter sp. 8 (10,66%) e Escherichia coli 5 (6,67%), estando algumas delas presentes tanto em amostras de pacientes hospitalizados, enfermarias e UTI, quanto em pacientes ambulatoriais. Klebsiella pneumoniae foi a principal espécie de Enterobacterales com resistência aos carbapenêmicos estando presente em amostras de pacientes hospitalizados e ambulatoriais. Ações robustas e específicas de saúde pública precisam ser realizadas para combater esse problema premente.

Palavras-chave: Enterobacterales resistentes aos carbapenêmicos; farmacorresistência bacteriana; infecções do trato urinário; infecção hospitalar.

 

Abstract

Urinary tract infections affect millions of people around the world each year. Carbapenem-resistant Enterobacterales have caused nosocomial infections throughout the world, spreading rapidly. This is a retrospective study carried out by collecting data from positive urine cultures from hospitalized and outpatient patients at a university hospital located in the city of Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil, from January 2020 to December 2021Among the 877 urine cultures positive for bacteria, 497 (56.67%) belonged to the Enterobacterales order, with the most prevalent being Escherichia coli 229 (46.08%), followed by Klebsiella pneumoniae 157 (31.59 %) and Proteus sp. 34 (6.84%). Urinary tract infections affected more female patients (56.21%). Among the total Enterobacterales isolated, 75 (15.09%) were resistant to carbapenems (Ertapenem and Imipenem), with emphasis on Klebsiella pneumoniae 57 (76%), Enterobacter sp. 8 (10.66%) and Escherichia coli 5 (6.67%), some of them being present both in samples from hospitalized patients, wards and ICUs, and in outpatients. Klebsiella pneumoniae was the main species of Enterobacterales with resistance to carbapenems, being present in samples from hospitalized and outpatient patients. Robust and specific public health actions need to be taken to combat this pressing problem.

Keywords: Carbapenem-resistant enterobacterales; bacterial pharmacoresistance; urinary tract infections; hospital infection.

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Publicado

19-12-2024

Como Citar

Vicenti, C. M., Meurer, I. R., & Garcia, P. G. (2024). Prevalência de Enterobacterales resistentes aos carbapenêmicos isolados de amostras de urina de pacientes hospitalizados e ambulatoriais. REVISTA CIENTÍFICA DA FAMINAS, 19(1), 1–9. Recuperado de https://periodicos.faminas.edu.br/index.php/RCFaminas/article/view/861