Cardiotoxicidade dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina: revisão sistemática e metanálise
Resumo
Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são fármacos de primeira escolha no tratamento do transtorno depressivo maior. No entanto, têm sido associados à redução na variabilidade da frequência cardíaca (VFC), prolongamento dos intervalos QT e QTc do eletrocardiograma (ECG), sendo estes biomarcadores de cardiotoxicidade, que predispõem a Torsades de Pointes (TdP). O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência dos ISRS sobre a VFC e os intervalos do ECG em humanos. Foi realizada revisão sistemática da literatura, nas bases de dados MEDLINE (PubMed), Cochrane, Scopus e LILACS (BVS), seguida de metanálise dos dados encontrados. Para isso, foram utilizadas as diretrizes metodológicas internacionais, Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA. O protocolo desta revisão sistemática foi registrado na plataforma PROSPERO sob o número CRD42022151097. Foram selecionados 11 estudos para a revisão sistemática, e oito desses foram submetidos à análise quantitativa. Foi evidenciado que os ISRS estão associados ao aumento do intervalo QTc (IC = 2,67 e 8,0), sem efeitos sobre a VFC. Os intervalos QRS (IC= 0,00) e PR (IC = -0,01 – 0,01) não foram alterados, bem como a FC (IC = -5,93 – 2,7). Considerando o intervalo QTc como preditor de arritmias cardíacas e as informações encontradas na revisão, concluímos que entre os fármacos analisados, o prolongamento do intervalo QTc ocorre com a fluoxetina e o citalopram. Não foi demonstrada alteração da VFC e nem dos intervalos PR ou QRS do ECG para nenhum dos fármacos analisados.
Palavras-chave: ISRS; antidepressivos; intervalo QTc; variabilidade da frequência cardíaca; eletrocardiograma.
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